A FADA DO SALGUEIRO
A Fada do Salgueiro pode ser a história de cada uma de nós, uma história que revela momentos que se repetem ao longo da vida e que se transformam numa constante, num modus vivendi de contínuas viagens emocionais que nos fazem transitar uma e outra vez pelos mesmos estados vitais.
Por vezes, chegamos a um momento do nosso percurso no qual as memórias se remoinham ao ponto de que os tempos passados parecem apresentar-se acordeónicos, justapondo-se sem obedecer a uma linha de tempo unívoca, e apercebemo-nos que desde sempre nos esmoucamos na mesma pedra, que todos os problemas que encontramos foram sempre o mesmo. É esse o momento de agir, de lutar contra essa barreira, ou então de aceitá-la e coabitar com ela da melhor forma possível. Este trabalho convida a uma reflexão sobre a inocência, a identidade e o contínuo medo de sofrer.
A autora enfrenta este trabalho desde a linguagem documental com o intuito de ordenar as suas memórias, reconciliar-se com o passado e aceitaras vulnerabilidades para encontrar as fortalezas. Apesar de ser um trabalho com uma abordagem desde o íntimo, é realizado com uma gramática universal capaz de fazer de espelho a qualquer mulher, independentemente da sociedade em que se cria dado que a realidade que as afecta é transversal a qualquer cultura.
Alina Zaharia começa este ensaio fotográfico como uma revisitação às vivências da infância na Roménia, ocupando os espaços que ficaram marcados na sua memória, olhando para as fotografias familiares que não via há anos, voltando a ritos e tradições e revivendo histórias marcantes do âmbito familiar. Fá-lo, todavia, num momento no qual já não quer julgar nem seguira confrontação. Fotografa desde o entendimento e a compreensão, sendo consciente de que só uma reconciliação com o que a rodeia e com as mulheres que ela foi trará novos caminhos mais planos.
A partir dessa viagem imersiva, a autora irá perceber como as memórias de infância, mais presentes do que ela achava, continuavam a manifestar-se ao longo da sua vida, em qualquer lugar e tempo que ela estivesse. Assim, começa uma segunda fase do trabalho na qual, já emigrada em Portugal, começa a relacionar as linhas do presente e do passado num tear terapêutico que procura a compreensão das constantes repetições, do capítulo vivido em loop da Roménia a Portugal.
A Exposição
A experiência expositiva que propomos no Instituto Cultural Romeno está dividida em três momentos que aproveitam a configuração arquitectónica do espaço. Num primeiro momento, logo à entrada, dispomos em sala uma pequena apresentação com o objectivo de localizar ao espectador ou espectadora. São, ainda, as imagens que nos transportam às memórias e ao passado mais remoto desde onde parte tudo o que vamos ver a seguir.
Reservamos o espaço mais escuro e angusto do ICR para um segundo momento expositivo no qual somos bombardeados por um turbilhão de analepses colocadas em espelho lado a lado. Ao longo do corredor parecera-nos perceber que cada parede pertence a uma localização diferente mas com uma concomitância que nos irá levar à confusão.
Acabaremos o percurso numa sala límpida para um terceiro e último momento que nos fala de uma mulher que aceita e assume as mulheres que foie que olha com força e decisão para a frente.
Vítor Nieves
Curador da exposição

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